Recebi vários e-mails sobre o filme e o livro "O código da Vinci". Publico aqui a opinião de uma amiga que é estudante de teologia. Ela reflete em muito o que penso sobre o assunto. Eu, como estudante de comunicação, tenho notado a importância que precisamos dar para o receptor da mensagem. Ele não é um robô, que receberá tudo passivamente, como queria supor a tese da agulha epidérmica dos pensadores frankfurtianos. Subestimar os "irmãos", as pessoas, achando que não saberão criticar nada que ouvem e vêem é tão ingênuo quanto dizer que saberão criticar de maneira profunda a tudo.
A cada dia que passa percebo que o que mais precisamos formar nas pessoas é a consciência crítica de um lado, e a virtude da prudência de outro. De que servirão as receitas, manuais, formulários, o "Index Proibitorum" ? Os cristãos precisam pedir a Deus a graça da PRUDÊNCIA... lutar por essa virtude, divulgá-la, amá-la, só assim poderemos mostrar ao mundo que religião não é prisão...religião é libertação! É saber escolher... o que ouvir... o que ver...o que ler!
Seja livre! Seja você! Seja diferente! Seja de Deus!
Sugiro a leitura do artigo Saber Decidir: a Virtude da Prudentia
Abaixo a opinião da Gisele Lorenço (estudante de teologia):
"Me parece estar havendo um sensacionalismo desnecessário em torno do assunto, uma vez que o filme exala de longe sua trama fictícia, aliás uma boa trama para os que gostam de filme de suspense. Recomendo inclusive a profissionais atuantes na área de linguística, psicologia e história. A ficção é tão clara que não me parece chocar gerando crises de fé até mesmo para a pessoa mais desinformada no assunto. Tentativas de refutar a todo preço as suposições e "viagens" de Dan Brown só poderão contribuir para um alarme falso. O que instiga na obra são as instituições utilizadas pelo autor com ar se sociedades ultra-secretas, o que desperta ira e saga aos leitores ou telespectadores quando se trata de uma instituição eclesiástica, por exemplo. Pensar hoje que a Igreja tenta encobertar segredos que trariam maior libertação à humanidade é um grande engano, uma vez que seu acervo mais suspeito é hoje de fácil acesso a estudiosos e curiosos como, por exemplo, os evangelhos apócrifos e o livro de Malleus Malleficarum.
Se fosse intenção da Igreja salvaguardar alguns "segredos" já teríamos uma elegante inquisição moderna, o que não é verdade. Além do mais, a Igreja e os teólogos renomados de nosso tempo são os primeiros a esclarecer os erros cometidos no passado para que os mesmos não se repitam e para que se entende de uma vez por todas o que seria a vivência do cristianismo em sua face real. Vale ressaltar que o mesmo rigor de exegese e hermenêutica que deve ser aplicado aos evangelhos canônicos também deve ser aplicado aos textos apócrifos, cuidado este que tem sido relevante em função de uma obssessão de refutar o esquema canônico da bíblia. E por fim, da mesma forma que a Igreja reconhece as bárbaries passadas também reconhece que não procede a defesa a todo custo e um saudosismo forçado à Opus Dei, pois sendo instituição, houve erros onde a causa não valia a pena.

Filmes como Ghost e A cidade dos Anjos, não mereceram tanto esforço eclesial, e esses vão justamente contra o cerne de nossa fé. Além do mais existem momentos no filme que me parece não terem sido explorados em suas dimensões mais positivas. Em certo momento, o personagem vivido por Tom Hanks - professor Robert Langdon - tendo recebido formação católica desde a infância afirma em discussão com o "mestre" sobre a origem e etimologia do Santo Graal que o fato de Cristo acaso ter se casado e tido filhos em nada impede sua disposição a obedecer à vontade de Deus e fazer milagres. Tal afirmação no filme é uma pérola preciosa para um dualismo religioso que se encontra profundamente entranhado no cristianismo ocidental, e a Igreja poderia se apropriar positivamente desse aspecto, assim como também da afirmação feita pela suposta descentente da linhagem de Jesus Cristo - a criptógrafa Sophie Neveu - que diz acreditar na bondade das pessoas, respondendo à pergunta feita pelo professor que quis saber se ela acreditava em Deus. É preciso tomar cuidado para a boa dose de panteísmo contida no filme, mas ao mesmo tempo tal afirmação supõe acreditar na bondade presente no ser humano, e esta, precisa derivar de um Bem Maior, um precedente de onde se origina toda bondade; qualquer raciocínio lógico remete a esta conclusão, logo, como não crer em Deus? Além do mais, a trama termina com a profunda reverência aos "supostos restos mortais" de Maria Madalena, uma santa reconhecida pela Igreja católica.

Portanto queridos, não há motivos para se alarmarem. Evitar o escândalo dos "pequenos" é de bom senso, mas subestimar a capacidade dos pequenos em compreender os meandros da história para amadurecerem a sua fé não é atitude pastoral. Além do mais, por mais pura e eficaz que seja uma fé, ela não aliena enquanto experiência verdadeira de Deus, pois a fé abarca o homem em todas as suas dimensões, uma vez que a graça supõe a natureza. A atitude pastoral de compromisso com a fé passando pela formação é tarefa, em primeiro lugar, de nós mesmos.

Um abraço,
Giselle Lourenço
Bacharelanda em Teologia
Instituto Padre Deon - Taubaté - SP

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