Hoje senti um pouco do deserto...
Uma secura poética...
Um desejo infinito de escrever sem parar...
E vem o louco do tempo me puxar para a realidade.
Escreve: mas caminha, anda, assobia e chupa cana...
Saudades de Nova Trento...
Valei-me Santa Paulina,
No meu coração só há espaço para o choro...
O Choro como um dom sem fim...
O choro à lá Thomas Merton, Sto Inácio, ou Paulo Apóstolo.
O choro...que no meu deserto brota como água do meu coração de pedra...
No meu Prado só há espaço para Adélia...
Eu ainda te amo...mesmo longe das tuas palavras...
Quero reviver nosso deserto...
Paixão
De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
O mundo, cheio de departamentos,não é a bola bonita caminhando
solta no espaço.
(Poesia Reunida, p.199.)
Ausência de poesia
Aquele que me fez me tirou da abastança,
Há quarenta dias me oprime do deserto. (...)
Ó Deus de Bilac, Abrãao e Jacó,
Esta hora cruel nào passa?
Me tira desta areia, ó Espírito,
Redime estas palavras do seu pó.
(Poesia Reunida, p.189.)
A salvação opera nos abismos.
Na estaçào indescritível,
o gênio mau da noite me forçava
com saudade e desgosto pelo mundo.
A relva estremecia
mas não era pra mim,
nem os pássaros da tarde.
Cães, crianças, ladridos,
despossuíam-me.
Então rezei: salva-me, Mãe de Deus,
antes do tentador com seus enganos.
A senhora está perdida?
Disse o menino,
é por aqui.
Voltei-me
e reconheci as pedras da manhã.
(Oráculos..., p.127.)
13 agosto, 2007 12:33
..."às vezes, experimentar 'o deserto' é bom. Aliás, é bom nessa vida experiemntar um pouco de tudo ... porque todo exagero é maléfico.
E ...porque rejeitar o deserto? Lá tem frio e tem calor, tem secura e tem oásis .... E, que lindo perceber que lá também tem seres vivos com uma RESISTÊNCIA IMPRESSIONANTE!
14 agosto, 2007 08:22
Diego, gostei da poeisa "contextuadelizada" (risos).
És aquele que observa e aquele que se movimenta. És aquele que lê e aquele que escreve. És aquele que chora e aquele que faz chorar. És antagónico de ti mesmo.
Não sei se lhe dou os parabéns ou se agradeço.
Por via das duvidas. "UM" Fica com Deus, a tudo satisfaz.
Saudações Fraternas,
Dionea Menezes Oliveira.
PS.: Estava fazendo falta suas poesias neste blog.
14 agosto, 2007 09:43
Muita sensibilidade poética e encanto, viva Adélia!
;)
Com licença poética
Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Beijos Dieguito.
18 agosto, 2007 10:21
Alegre ou triste, amor é a coisa que mais Adélia Prado quer. E ela é de pedra sabão.
O sempre amor
Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é a coisa que mais quero.
Por causa dele falo palavras como lanças.
Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é a coisa que mais quero.
Por causa dele podem entalhar-me,
sou de pedra sabão.
Alegre ou triste,
amor é a coisa que mais quero
Adélia Prado