
Dos escritores há que citar a interpretação clássica do filósofo espanhol Miguel de Unamuno com sua Vida de don Quijote y Sancho, de 1931, que é de leitura obrigatória para quem desejar penetrar nas mensagens que a obra cervantina nos oferece. Não vou me deter a resumir as aventuras do Quixote. Todo mundo conhece a sua corrida contra os moinhos de vento que para ele eram terríveis gigantes ou a sua idealização da mulher na figura de Dulcinea del Toboso que não passava de uma serviçal feia e suja. As aventuras do Quixote são relatadas em nada menos de 126 capítulos na edição Aguilar. No Brasil, infelizmente, não conheço uma edição integral do Quixote. A Petrobrás publicou um livro, de leitura interessante, que contém 21 gravuras de Portinari ilustradas com 21 poemas de Carlos Drummond de Andrade. São duas percepções que se reúnem no texto, a do pintor e do poeta, sobre diferentes momentos da obra de Cervantes. Os poemas de Drummond estão no livro As Impurezas do Branco (1973). Transcrevo o poema IV, "Convite à Glória", porque reflete muito bem o Idealismo do Quixote contra o Realismo do Sancho e, quem sabe, poderá estimular os leitores a conhecerem esse texto e a edição integral do Quixote. O poema é um diálogo entre Quixote e seu escudeiro:
— Juntos na poeira das encruzilhadas conquistaremos a glória.— E de que me serve?— Nossos nomes ressoarão nos sinos de bronze da História.— E de que me serve?— Jamais alguém, nas cinco partidas do mundo será tão grande. — E de que me serve? — As mais inacessíveis princesas se curvarão à nossa passagem. — E de que me serve?— Pelo teu valor e pelo teu fervor terás uma ilha de ouro e esmeralda.— Isto me serve.
Antônio Ribeiro de Almeida
