"É experiência !!! É experiência !!! O grande lance é experimentar. Não adianta só ficar com teorias e não adianta também forçar quem não quer. Precisa ser um convite..." (Diego Fernandes)
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Beijar na boca é bom demais! Agora imagine que um Santo da Igreja Católica falou sobre o beijo na boca e o comparou com nosso relacionamento com Deus. Bem, na verdade, você que acompanha o blog percebeu que estamos falando sobre beijos há algum tempo. E estamos nos aproximando da última conferência do retiro "São Bernardo e os 3 beijos" que foi ministrado por um monge a pedido da nossa Sociedade dos Amigos Fraternos de Thomas Merton.
Eis a penúltima: IV. O BEIJO DA BOCA
S. Bernardo é com freqüência chamado de “o último dos Padres”. Isto significa que ele viveu e escreveu durante uma mudança paradigmática; neste caso, de uma visão do mundo patrística / monástica para uma escolástica. A abordagem escolástica o deixava nervoso por diversas razões, uma delas sendo uma certa tendência, na escolástica, de separar conhecimento e amor. O próprio S. Tomás, embora não caindo neste erro, é com razão chamado de “intelectualista”, pelo fato de que, para ele, a Visão Beatífica era um ato do intelecto (é o intelecto que vê: visio). Para Bernardo, vindo de uma tradição mais antiga, era crucial manter que a experiência contemplativa é um ato tanto da vontade quanto do intelecto. Não é somente compreender, mas compreender e amar. Por esta razão, ele encoraja o contemplativo a receber o beijo do Espírito com ambos os lábios – o lábio da inteligência e o lábio da sabedoria, o lábio que pega e vê e o lábio que degusta. Eu ousaria dizer que Bernardo tende a inclinar-se na outra direção e a reafirmar a posição de Gregório Magno e freqüentemente citada no século XII: “Amor ipse notitia est”, “O amor é em si mesmo conhecimento”.
Devemos lembrar-nos de que cada um dos beijos tem seus perigos, e de que o perigo geralmente brota de uma incapacidade de manter-se o equilíbrio (apegar-se aos dois pés, por exemplo). Aqui também existe um duplo perigo espiritual, que deriva exatamente de não manterem-se unidos os aspectos intelectual e voluntário da experiência contemplativa. Ali onde a contemplação é buscada meramente como um conhecimento do mais alto objeto imaginável pelo nosso intelecto, cai-se na categoria de um vício monástico tradicional: curiositas. Curiosidade não se torna moralmente melhor só por estar direcionada ao sublime. O intelecto automaticamente deseja conhecer e, conhecendo, dominar (como “dominar” uma língua). Isto, para Bernardo, tomado isoladamente, não é um exercício de virtude, mas um tipo de libido, um tipo de concupiscência, e pior ainda quando aplicada a Deus, como se Ele fosse um pico a ser escalado. A motivação do amor está faltando e, assim, a busca de Deus torna-se outra forma de auto-afirmação, ao invés de uma expressão de adoração. Isto, penso eu, é o que mais irritava Bernardo em Abelardo: a idéia de fazer de Deus “um objeto de estudo”; poderíamos talvez dizer hoje: fazer seu doutorado sobre Deus.
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